A ruptura da terceira via e o cenário político do Brasil

Micael Olegario
3 min readApr 1, 2022

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Foto colorida de uma lâmpada, ela está apagada à esquerda da imagem, o fundo é escuro com apenas uma luz desfocada ao longe
Sem decolar nas pesquisas, terceira via fica distante de emplacar no Brasil — Imagem: Pixabay

A autoproclamada “terceira via” escancarou sua miscelânea e está afundando, morrendo na praia. O grupo de presidenciáveis, que buscam se colocar como alternativas à polarização entre Bolsonaro e Lula, segue instável politicamente e estagnado nas pesquisas de intenção de voto. Hoje, é difícil imaginar um cenário que não envolva um confronto entre o petista e o ex-capitão no segundo turno das eleições deste ano.

Dória luta e esperneia internamente para manter sua candidatura pelo PSDB, que depois do fracasso nas eleições de 2018, está em franco processo de convulsão. Alckmin se filiou ao PSB para ser vice de Lula. Eduardo Leite segue sonhando com o Planalto. Ciro atira para todos os lados e não acerta ninguém. Moro desistiu, por ora, e se filiou ao União Brasil, gigante dos fundos partidário e eleitoral. Bolsonaro distribuiu seus ministros pelo centrão em busca de mais palanques estaduais e apoio. E ainda há Simone Tebet pelo MDB, que também não avança nas pesquisas.

Sobram nomes e candidatos, sobra articulação, e sobrará, ou deveria sobrar, fundo eleitoral, dado seu valor exorbitante. Faltam jovens eleitores, falta renovação, tanto na direita, quanto na esquerda. Sobram ataques e acusações de lá e de cá, falta diálogo e falta política na corrida eleitoral brasileira. Isto mesmo, falta política. Porque a política não é um mal a ser combatido, como insistem dizer alguns candidatos que, mesmo vivendo da política há tempos, tentam se colocar como “diferentes”, criticam as “mamatas” apenas para mudá-las a seu favor.

O ambiente social no Brasil está tenso por uma série de contextos. O mais preocupante é a crise econômica com reflexos diretos nas urnas, decorrente de muitos fatores, como a pandemia e mais recentemente a guerra na Ucrânia. No entanto, não deixa de ser também resultado de uma série de políticas ineficazes, como a reforma trabalhista e a cruzada pelo esvaziamento de políticas públicas, como na educação, por exemplo, camuflada agora com o Auxílio-Brasil, criado unicamente com propósitos eleitorais. E, em segundo lugar, as ameaças à democracia, constantemente repetidas pela extrema-direita autoritária e saudosista da ditadura militar.

Preocupa também o caminho do depois. Os anos que seguem não serão fáceis, independente do governante eleito em outubro. Isto porque, um dos elementos vitais para o crescimento do país passa ao largo da discussão na grande mídia, e também do pensamento dos eleitores. O sistema presidencialista faz parecer que o pleito para o Executivo é o mais importante, e é possível que seja mesmo, mas tão importante como escolher bem o próximo presidente, os brasileiros e brasileiras precisam escolher bem seus candidatos para o Congresso Nacional.

Algo que ganhou evidência no impeachment da ex-presidente Dilma, com influência em todos os governos desde a redemocratização, e novamente cristalizado durante a CPI da Covid, foi a importância da Câmara e do Senado na qualidade da democracia no Brasil. Aliás, é a atual fragmentação partidária e os interesses populistas de grande parte do Congresso que torna o cenário político atual tão tenso e complicado. A preocupação com o ocupante da cadeira principal do Planalto tem que envolver também os assentos da Câmara e do Senado, sob o risco do Brasil, mesmo com um novo governo, seguir estagnado, a exemplo da terceira via nas pesquisas.

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Micael Olegario

Estudante de Jornalismo — Unipampa. Autor do livro Destinos Casuais. Instagram: @micael_olegario