Meu violão escorado na parede

Micael Olegario
2 min readSep 3, 2021

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Estava limpando meu quarto quando me deparei com meu violão escorado na parede. Olhei-o com ternura e saudade. Não exatamente saudade de tocá-lo, mas sim da esperança que tinha de um dia ser digno dele. Desde pequeno eu sempre quis aprender a tocar violão. Quando consegui juntar dinheiro para comprar um, fiquei feliz, orgulhoso e cheio de esperança. Então comecei a fazer aulas e assistir vídeos para aprender a tocar. Nunca aprendi direito, sempre fui medíocre. Mais arranhei o pobre violão e os ouvidos dos meus familiares que qualquer outra coisa próxima a uma música. Ainda assim, por mais de um ano insisti, praticando quase diariamente, e a despeito de algumas poucas diferenças, segui sempre no mesmo nível.

Hoje faz mais de um mês que não tento mais tocar. Meu violão está escorado na parede. Desamparado e abandonado, ele não teve culpa de ser comprado por mim. Sinto pena dele e imagino que, se pudesse falar, iria sem dúvida praguejar contra minha presunção e falta de talento. Pobre violão, devia sonhar com noites agitadas e com rodas de amigos embaladas por seus acordes. Não pude oferecer isto a ele. Falhei com meu violão e hoje ele está escorado na parede.

Quisera eu ainda ter aquela velha e ingênua esperança de um dia tocar minimamente bem. Não sei o que aconteceu comigo que a perdi no caminho. Não sei onde errei a curva e fui trazido para este estado de desesperança. Se eu pudesse recuperar a esperança, escreveria mais poemas e talvez um outro livro, algo mais sensato e maduro, embora ainda medíocre, afinal reconheço essa indelével marca em tudo o que produzo. Se eu pudesse recuperar a esperança, tiraria meu violão da parede e tentaria mais uma vez aprender a tocar. E talvez nesse processo aprendesse também a viver.

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Micael Olegario

Estudante de Jornalismo — Unipampa. Autor do livro Destinos Casuais. Instagram: @micael_olegario